segunda-feira, 30 de agosto de 2010

#9

Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste...

Uma vila encardida - ruas desertas - pátios de lajes soerguidas pelo único esforço da erva - o castelo - restos intactos de muralha que não têm serventia. Uma escada encravada nos alvéolos das paredes não conduz a nenhures. Só uma figueira brava conseguiu meter-se nos interstícios das pedras e delas extrai suco e vida. (... ) Sobre isto um tom denegrido e uniforme: a humidade entranhou-se na pedra, o sol entranhou-se na humidade. (... )

Silêncio. (...) Ouço sempre o trabalho persistente do caruncho que rói há séculos na madeira e nas almas.


raúl brandão | húmus

domingo, 8 de agosto de 2010

#7

respeitar a natureza do homem sem a querer mais palpável do que ela é
.
dedicar-me às imagens insignificantes (não-significantes)
.
a força ejaculadora do olhar
.
quando um violino é suficiente não se deve utilizar dois (vivaldi)
.
reconhece-se o verdadeiro pela sua eficácia e pelo seu poder
.
um conjunto de boas imagens pode ser detestável
.
cinematógrafo, arte militar. preparar um filme como uma batalha
.
captar os instantes. espontaneidade, frescura
.
modelo. todo rosto
.
desequilibrar para reequelibrar
.
nada em excesso, nada que falte
.
O CINEMA SONORO INVENTOU O SILÊNCIO
.
o próprio debussy tocava de piano fechado
.
retocar o real com o real
.
sê o primeiro a ver o que vês como tu o vês


robert bresson | notas sobre o cinematógrafo